Terminei mais uma leitura de romance semifinalista do Prêmio Oceanos. Dessa vez, “Autobiografia”, de José Luís Peixoto (foto, escrito para e lançado pela Tag, ainda indisponível nas livrarias). Precisava conhecer a literatura desse português com tantas obras importantes na cena contemporânea, e o livro foi uma gratíssima surpresa. Trata-se de pura metalinguagem, protagonizada por um escritor chamado José, que se incumbe de escrever a biografia de outro escritor português, outro José, Saramago, com quem entra numa relação misteriosa e intrincada.
José é viciado em jogo e álcool, tem um livro publicado e embatucou na produção do segundo. Ao conhecer a cabo-verdiana Lídia, apaixonada pela obra de Saramago, encontra estímulo para avançar na biografia do xará, mas não consegue se desvencilhar dos próprios conflitos, inclusive dados pelos encontros com o biografado, em que mais segredos se escondem e se revelam. Afinal, a biografia de um José é também a do outro – e se forem ambos a mesma pessoa? Outros personagens trançam na trama, como o alemão Fritz e o português Bartolomeu, e mais Pilar, a mulher de Saramago, e outras figuras fictícias ou importadas da realidade.
O livro é inteligente, interessante, intrigante, tem um pouco de tudo, e mergulha com propriedade na obra de um dos meus autores preferidos de todos, dono de uma trajetória que justifica plenamente o Nobel recebido em 1998, período em que se passa a história de “Autobiografia”.
E por falar em Nobel, li também o romance de mesmo nome de Jacques Fux, outro em metalinguagem e também muito interessante. Em sua autoficção, o protagonista é o próprio Fux, que acaba de receber a premiação maior da literatura mundial e se coloca num diálogo com o pessoal da Academia Sueca, com outros ganhadores do prêmio e com escritores injustiçados por nunca o terem vencido. Uma divertida viagem em torno da obra de grandes autores da literatura mundial nos últimos cem anos, de Kafka e Borges a Saramago e Philip Roth, e mais, muito mais.
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