E nessa temporada de conhecer novos autores, ou melhor, autores que nunca tinha lido, cheguei ao francês Guillaume Musso, de A Vida Secreta dos Escritores (L&PM), romance que navega naquela onda de metalinguagem que tenho comentado aqui por causa de outras leituras, como as de Jacques Fux e José Luís Peixoto. A trama desse delicioso romance explora a mistura de ficção com realidade, mas na verdade tudo é literatura.
Conta a história de um escritor, Nathan Fawles, que, após três livros de sucesso estrondoso, se recolhe numa pequena ilha onde se isola do mundo e jura nunca mais escrever uma linha sequer, nem dar entrevistas, nem falar sobre a curta carreira de escritor de best-sellers. Um mistério ronda a vida pessoal da intrigante figura, que cita o norte-americano J.D. Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio e nos lembra também o brasileiro Raduan Nassar, outro a se recolher após lançar “apenas” três obras-primas. O romance, aliás, é repleto de citações, não apenas do que o leitor medianamente bem informado identifica, mas de uma porção de livros e filmes mais ou menos conhecidos.
Em A Vida Secreta dos Escritores, acompanhamos um jovem candidato a romancista que consegue um emprego sazonal na livraria dessa pequena ilha onde se esconde Nathan Fawles. É a oportunidade que ele encontra para tentar se aproximar de seu ídolo. Mas outra pessoa também tem as mesmas intenções: uma jornalista ligada a uma história do passado de Fawles. Um crime na pacata ilha leva a polícia a fechar o local, em citação daqueles romances de Agatha Christie em que suspeitos e vítimas se veem confinados no mesmo espaço, e a trama se enovela cada vez mais.
Narrativa ágil, personagens intrigantes, suspense, mistério – e aulas de letras – colaboram pra fazer do romance uma leitura que não se larga antes do fim. Não antes de o autor, Musso, explicar tintim por tintim o que é real e o que é invenção nesse imbroglio todo.
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