Este ano vai completar 10 anos que faço parte do Instituto Cultural Casa de Autores, um coletivo de escritores, editores, ilustradores etc. cujo lema é “fazer do Brasil um país de leitores”. Graças ao trabalho com o pessoal da Casa, conheci Lucília Garcez, minha amiga amada que se foi no ano passado, aprendi muitas coisas, me senti estimulada a fazer diversas outras, passei a frequentar escolas, festas e feiras literárias, comecei a escrever pra crianças, a fazer palestras e alterar minha percepção da carreira de escritora para uma visão mais profissional e militante.

E conheci lugares que não estavam no meu mapa até então. Pirenópolis, com a Flipiri, é o mais importante deles. Agora, na semana passada, foi a vez de Quirinópolis. Já ouvira falar da cidade desde que cheguei a Brasília, em 2004, e tive como subeditor o saudoso Natal Eustáquio, quirinopolitano. Ele também, um amigo tão querido, se foi cedo, mas o nome da sua cidade natal, no extremo sul goiano, colada no Triângulo Mineiro, ficou gravado na minha memória. Após a visita terminada sábado, ganhou lugar cativo também no meu coração.

Fomos, um grupo da Casa de Autores, inaugurar na cidade a primeira edição da Festa Literária de Quirinópolis, a I Fliquiri. Pode haver uma alegria maior para escritores empenhados em difundir o livro e a leitura do que dar à luz um evento capaz de mobilizar as forças civilizatórias numa cidade apaixonada por educação e arte, mas sedenta de mais cultura, mais oportunidades?

Víamos estampada em todos os rostos a alegria de cada criança, de cada jovem, de cada adulto, professora ou professor, trabalhadora ou trabalhador do ensino, servidores públicos, motoristas, apoiadores voluntários, comerciantes, todos que, de uma maneira ou de outra, se viram beneficiados pelo contato direto com gente que faz arte. Pra maioria deles, era a primeira vez que viam de perto o autor de um livro. Que ouviam palavras que tanto ansiavam por ouvir. Que trocavam ideias sobre paixões e eram ouvidos com atenção e afeto.

Nossa experiência em Quirinópolis foi pontuada por fortes emoções. Durante a itinerância nas escolas, nos apresentamos e respondemos perguntas de todo tipo, fizemos selfies, demos autógrafos e trocamos abraços. Nas contações de histórias, a criançada – e os adultos também, claro – se envolveu com entrega total. No sarau que levamos à praça na surpreendentemente fria noite de sexta-feira, conhecemos e nos confraternizamos com artistas locais, músicos, cantores, atores, poetas.

A ciranda que abriu e fechou o sarau foi o retrato de tudo que propusemos (e obtivemos, felizmente) na I Fliquiri: todos unidos, de mãos dadas, numa roda democrática e calorosa, para celebrar a esperança em novos tempos. Pois virá, que eu vi, o tempo de valorização da educação, da cultura, da escola, do professor, do trabalhador, do livro, da leitura, da paz, da união, da cidadania, da pluralidade de cores, gêneros, origens, discursos. Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais.

Nosso último ato, na manhã de sábado, foi mais uma contação de histórias repleta de emoções. A maior delas, o manifesto lido pela professora e servidora Vanessa Dara, representante da comunidade LGBTQIA+, que nos demonstrou, sob aplausos, estar Quirinópolis democraticamente aberta às diferenças, de forma respeitosa e afetuosa. Não poderia ter sido melhor. Perfeito. Obrigada, Quirinópolis, e obrigada, Casa de Autores, por me proporcionarem uma experiência tão enriquecedora.

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