Meus companheiros do Instituto Casa de Autores e eu decidimos estudar juntos, e começamos pelo tema da literatura para crianças, que une praticamente todos nós. O primeiro livro que lemos para esse fim foi “Por uma literatura sem adjetivos”, de María Teresa Andruetto (Pulo do Gato), que reúne doze textos da escritora argentina, num verdadeiro curso sobre questões que nos são tão caras.
Especialista na obra de Marina Colasanti, autora do prefácio do livro, María Teresa aborda interessantes aspectos da criação, como o exercício do olhar, que se torna o verdadeiro ofício do escritor, ou a relação da produção atual com os cânones acadêmicos, questões relacionadas às temáticas presentes nos livros e outras.
O que mais impressiona é a defesa feita pela autora de que o melhor de uma literatura voltada para o público infantojuvenil é exatamente que ela não seja voltada para o público infantojuvenil. Que ela não tenha adjetivos, nesse sentido, pois a qualidade literária não pode e não deve se circunscrever aos ditames do mercado e de uma ditadura dos colégios e dos governos.
Numa conjuntura em que, aqui no Brasil, em especial, a autocensura se impõe a quem pretende ter seus livros comprados, adotados, lidos e estudados nas escolas, pois há restrições “morais”, religiosas, temas proibidos, enfoques banidos, autores proscritos, mais do que nunca é bom sermos provocados por uma boa cabeça pensante.
María Teresa faz isso com o leitor-escritor, nos faz questionar: o que queremos ser? Nosso projeto de vida é a aceitação pelo mercado, é a venda a qualquer preço? É publicar não importa o quê? Ou almejamos fazer um trabalho de qualidade, com ou sem “mensagem”, com ou sem adequação ao sistema?
Ficam aqui essas indagações que todos nos fazemos, pois, afinal de contas, ninguém, por mais idealista que seja, abre mão de um nível qualquer de viabilidade econômica.
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