A gente vive da palavra, e quando chega a hora de dizer alguma coisa legal pra alguém que merece, não tem palavras. Assim me sinto diante da morte de João Paulo Cunha, o João. O nosso João. Mais que o jornalista brilhante, o militante aguerrido, o intelectual rigoroso, o mestre de todos nós, o amigo.
João e eu vivemos uma relação tão próxima durante sete anos que era comum a gente se tratar por nós. Ele era meu chefe, mas trabalhávamos em tal sintonia que o plural não era majestático, era uma realidade que vivíamos profissional e pessoalmente. Isso por causa de sua extrema generosidade. Porque, a rigor, ele sabia tudo e eu me sentia, ao seu lado, eterna aprendiz.
Quando me perguntam sobre estudos, explico que não fiz mestrado nem doutorado, mas que trabalhei com o João durante sete anos. Esse foi meu maior e melhor aprendizado. Ao me ensinar a ler – agora não apenas literatura, mas também filosofia, história, política, geografia, sociologia e tantos outros temas que nem me passava pela cabeça entender -. João foi meu tutor. Me guiou pela mão. Mudou a minha vida. Me fez ser e me sentir mais inteligente, mais culta, mais bem informada. Porque ele era inteligente, culto, bem informado e generoso. Não guardava conhecimento. Pelo contrário, distribuía a rodo, com amor e carinho pelas pessoas.
João era tudo isso do ponto de vista intelectual, mas era sobretudo bom. Bondade que qualquer um pode ver neste olhar que agora está eternizado no meu coração, nas minhas retinas, nas minhas saudades.
A distância, depois que cada um seguiu seu caminho, só foi menos dolorosa porque vi meu amigo feliz, amando e sendo amado pela Cibele e pela legião de amigos, lutando sempre pelas melhores causas, orgulhoso de sua filha Joana, da netinha Antônia.
João, hoje é dia de chorar sem repressão. Você vai fazer muita falta pra mim, pra todos que te amamos, pro jornalismo, pra Minas Gerais, pro Brasil. Mas sua luta prosseguirá. Não vamos deixar a peteca cair. Você seguirá nos iluminando. Obrigada por tudo, meu amigo.
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