Ainda nas pesquisas de autores que tenho na minha biblioteca e que ainda não havia lido, fui conferir o Italo Svevo (Ettore Schmitz), judeu italiano que morreu em 1928, antes, portanto, das páginas mais dolorosas da história de seu povo. Trata-se de uma figura curiosa, pois lançou apenas três livros, que fizeram sucesso na época. Li Senilidade (Nova Fronteira), mas infelizmente ele não correspondeu às minhas altas expectativas.
Embora seja um livro bem escrito, num estilo clássico impecável, considerei a temática e o desenvolvimento dos personagens muito datados. Trata-se da conhecida história de uma homem apaixonado por uma mulher cheia de mistérios e subterfúgios, que aos poucos se mostra tão libertina na questão moral que termina tachada de puta pelo amante. E ele justifica tudo pela suposta falta de escrúpulos dela, uma moça linda e pobre, que mantém noivados e namoros ao sabor de seus interesses, principalmente o objetivo de obter um bom casamento.
Desde a primeira página sabemos que Emilio não se dispõe a se casar com Angiolina porque é igualmente pobre. Ele e a irmã Amalia vivem parcamente e por isso o próprio enamorado estimula a amada a conseguir um bom futuro com outro. Quando percebe que ela dança conforme a música e “trai” todo o “amor” que ele lhe tem, vêm a revolta e humilhação daquela que, em pleno início do século XX, ousa ser dona do próprio corpo e do próprio desejo.
Assim são as mulheres de Senilidade: ou donas de si e putas, ou feias e histéricas, como a irmã de Emilio, que sucumbe à “doença” enquanto ama secretamente o amigo do irmão. Mulheres de um romance em que mocinhos são velhos aos 35 anos e vilãs são aquelas que têm vida sexual e prazer. Ok, é a narrativa de um tempo. Mas não há empatia possível um século depois.
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