Tem um tempão que estou tentando falar sobre peladas e não consigo, devido ao alto grau de tensão e emoção das últimas partidas desta Copa do Catar. Vejam hoje a dificuldade encontrada pela França, coroada, no entanto, pelo brilho de sua estrela maior, Mbappé (foto), aquele craque que, além de tudo, é um fofo. E o que dizer da Argentina? Após um primeiro tempo abaixo da crítica, salvou-se também por um lance iluminado do Messi, gênio que dispensa elogios. Então, como falar dos pequenos, dos toscos, dos já eliminados, como os anfitriões, que gastaram na faixa dos trilhões e só não vão pra casa porque já estão nela?

O caso é que, em se tratando de Copa do Mundo com 32 seleções, não tem jeito de manter o nível elevado. E podemos nos preparar, porque vem aí o Mundial de 48 times, e não me digam que futebol e política não se conversam: está tudo explícito, na cara de todo mundo. É só lembrar o tempo da ditadura, quando a então CBD enfiava times e mais times no campeonato nacional, pra fazer média nos estados onde a Arena (partido da situação) ia mal das pernas, ou seja, em toda parte. Resultado: o principal torneio ia crescendo pra 60, 90, mais de 100 times de tudo quanto é biboca, pra gáudio de alguns políticos e desespero dos amantes do bom futebol.

Outra manhã levantei cedinho, como sempre faço, e carreguei minhas cobertas pro sofá às 6h55, como faço desde que começou a Copa, pra ver a partida que abria o dia. Era Gales x Irã. O jogo começou, eu pisquei o olho e já haviam se passado 30 minutos e eu ainda não estava entendo qual time era qual. Um de branco, o outro de vermelho. Levantei, tomei café, lavei os olhos e fui encarar o segundo tempo. Aí a coisa esquentou, com os dois gols do Irã e aquele povo sofrido festejando como nunca antes na história daquele país.

Percebem o tanto de peladas que temos enfrentado nesta última semana? Zero a zero como Dinamarca x Tunísia, México x Polônia (em que pese a emoção do Oshoa pegar pênalti do Lewandowski), Marrocos x Croácia, Uruguai x Coreia do Sul, Inglaterra x Estados Unidos… Nunca se viu tanto placar em branco numa Copa do Mundo. Ainda bem que as goleadas estão aí pra consolar o marasmo de tanto empate sem gols. Não estranhem que eu durma em frente à TV.

E tem pelada com gol, também. Suíça 1 x 0 em Camarões foi até divertido, apesar da ruindade dos dois próximos adversários do Brasil. Era todo mundo atacando o tempo todo, sem organização, sem esquema, num clima idêntico ao daqueles legítimos rachões, em que três do mesmo time vão na mesma bola, depois não tem ninguém pra voltar, zorra total. Confesso que gosto.

Gosto de três coisas relacionadas ao futebol: primeiro e acima de tudo, do Galo. Sem necessidade de explicar: jogando bem ou jogando mal, ganhando, perdendo ou empatando. Segundo que tudo, futebol de alto nível, times bem armados e treinados, craques em exibições de gala, como o Brasil de 70, o Brasil de Telê, o São Paulo de Telê, o Flamengo de Jorge Jesus, os Barcelonas da vida, a Alemanha do 7 x 1 etc etc.

Terceiro, e não menos importante, pelada. Perco meu tempo assistindo a cada coisa que vocês nem imaginam! Já fui ao Mané Garrincha pra testemunhar, com meia dúzia de malucos, Gama x Avaí. Assino todos os canais pra não perder nem a série C. Paro na rua quando vejo uns moleques correndo atrás de uma bola de meia, coco ou mamucha. Já disse isso em outro texto, tempos atrás: nós, brasileiros, somos todos peladeiros, craques na arte de nos virar, de correr atrás do prejuízo e inventar soluções mágicas repletas de beleza. Como um drible de corpo ou um gol de voleio.

Texto escrito para o projeto Crônicas da Copa – www.cronicasdacopa.com.br

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