Na quadra onde eu moro, em Brasília, quatro blocos (prédios, no dialeto da cidade) envolvem um amplo espaço, formando uma espécie de ágora, aquela praça grega onde se inventou a democracia. Não morava aqui na época do impeachment da Dilma, então não sei como foi. Mas desde que vim pra cá, há três anos, apoiadores e opositores do atual desgoverno usam a amplidão da ágora pra se manifestar em panelaços, cantos, aplausos e vaias, de acordo com os acontecimentos políticos do país.

Ontem à noite, durante o último debate da campanha eleitoral antes do pleito, nossa ágora particular se inflamou como se fosse final de campeonato. Muitos entoaram o meu preferido – olê, olê, olê, olá… Lula, Lula… –, outros xingavam o genocida, alguns tantos vaiavam. Na turma de lá, principalmente no bloco da extrema direita (da praça, gente), arrumaram um aparelho de som e começaram a tocar a toda altura o Hino Nacional Brasileiro, em mais uma tentativa de sequestro dos símbolos pátrios, como se pertencessem a eles. Logo eles, que batem continência pra bandeira dos Estados Unidos, entregam nossas riquezas pras empresas estrangeiras, que não cuidam dos pobres, não gostam dos povos originários, da arte e da cultura que representam a alma do Brasil. “Patriota meus ovo”, diria um amigo meu.

Um dos que mais me chamaram a atenção foi um vizinho (do bloco) da extrema esquerda que, talvez embalado por uma cervejinha extra de sexta à noite, gritava a plenos pulmões:

– Faltam só dois dias pra mandar embora esses vermes, porra!

– Vermes! Vermes! Voltem pro esgoto!

Nem que eu quisesse eu conseguiria tamanha potência vocal. Mas até que dava vontade. Invejei a mulher que, do prédio em frente, esgoelava alto e bom som:

– Pedófilo! Genocida! Prótese peniana!

Tão engraçado quanto certeiro. Afinal, tenho lado e não escondo isso de ninguém. Como disse outro meme que me passou pelas vistas esses dias, se o Lula ganhar as eleições, não vamos entrar no paraíso, mas pelo menos começaremos a sair do inferno.

Digo mais: com o país dividido e radicalizado como comprova esse pequeno recorte da ágora da minha quadra, teremos muito trabalho para pacificar os ânimos depois de amanhã, haja o que houver. Só mesmo muita serenidade, experiência, inteligência e união poderão apontar os caminhos.

Enquanto isso, penso nos que se foram vitimados pela covid 19 e faço esta chamada pra que a gente nunca se esqueça da tragédia com que o desgoverno ajudou a enlutar a alma brasileira:

Aldir Blanc, Sérgio Sant’Anna, Olga Savary, Gésio Amadeu, Aritana Yawalapiti, Eduardo Galvão, Nicette Bruno, Genival Lacerda, Tarcísio Meira, Iamony Mehinako, Paulo Gustavo, Agnaldo Timóteo, Ismael Ivo, Cassiano, Nelson Sargento, meu primo Eugênio, meu amigo Zepê, pais, avós, filhos, amigos, 688 mil e tantas perdas, todas igualmente importantes e irreparáveis. Vocês não serão esquecidos.

#Lulapresidente13