O romance Tudo é rio, de Carla Madeira (Record), revela a incrível capacidade da escritora mineira de contar histórias. Com maestria de bordadeira, ela desliza pra lá e pra cá os fios de uma trama que o tempo todo remexe nas emoções das personagens e, por consequência, nas nossas, dos leitores. O mais surpreendente é saber que se trata de romance de estreia da conhecida publicitária, sócia de uma agência conceituada, a Lápis Raro. Mas em nada se percebe, ao longo do livro, nem inexperiência de estreante nem viés publicitário na linguagem ou no tratamento da história. É literatura de primeira.

Tudo é rio fala de amor e desamor em suas várias expressões. O laço amoroso que se constrói e destrói entre os protagonistas, Dalva e Venâncio, e em volta deles as heranças igualmente amorosas e desamorosas das respectivas famílias. Completa um triângulo amoroso/doloroso Lucy, uma puta com trajetória de conquistas e rejeições. Lucy se interpõe no caminho de Dalva e Venâncio pra atrapalhar ainda mais o desacerto trágico já instalado no casal. Mas, sem saber, está tramando também o caminho do reencontro.

O livro é lindo, bem escrito, profundo, reflexivo, ousado. Usa bem imagens, como a da água que tudo permeia (afinal, tudo é rio e deságua no mar), conduz o leitor por caminhos inesperados, sustenta ao longo de quase toda a trama um suspense do qual se suspeita o desfecho, mas que surpreende pela coragem da autora de fazer o que enfim era o melhor a fazer. Não foi à toa o sucesso desde seu lançamento, em 2014.

Que ótima descoberta! Agora que sei do que Carla Madeira é capaz, vou atrás do segundo livro dela, A Natureza da Mordida, de 2019.

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