A poeta, escritora e professora belo-horizontina Ana Elisa Ribeiro, que há havia “relido” a famosa carta de Pero Vaz de Caminha em seu livro O E-mail de Caminha, investe novamente na releitura. Desta vez ainda com mais ousadia e resultado incrivelmente atual. Romieta e Julieu – tecnotragédia amorosa (RHJ Editora) traz para os dias de hoje a célebre tragédia imortalizada por William Shakespeare no século XVI.

Que ninguém se espante, porque nada tem tantas releituras quanto Romeu e Julieta. Aliás, nem o próprio original de Shakespeare era original, pois ele nada mais fez que recontar, com sua genialidade, uma história já por demais conhecida na sua época, do casal de jovens de famílias rivais que protagonizam paixão avassaladora e terminam tragicamente.

Na versão de Ana Elisa, a atualização se dá não somente em trazer pra linguagem do século XXI os diálogos e as ações. Também a estrutura da peça teatral sofre profunda intervenção. Grande parte dos extensos diálogos dão lugar a um narrador que ocupa o espaço das rubricas (as indicações de como e onde deve ser encenada cada cena) para ganhar tempo e enxugar as gordurinhas do texto original.

O bom humor dá o tom da conversa “traduzida” por Ana Elisa para a linguagem das redes sociais. Romeu e Julieta, apesar (ou por causa) da inimizade entre as famílias Montékio e Capuleto, são “shipados” pelo frade que os ajuda, pela ama da menina e até pelo narrador. Hashtags e memes comentam os fatos que se desenrolam. Stories, selfies, zaps, videochamadas, wi-fi e planos de dados se misturam no enredo, de modo a compatibilizar com a atualidade a história de amor mal-sucedida de Rô e Juju.

Mas a essência – ah, isso fica intacto, por mais que as gírias e os gêneros textuais se atravessem sem cerimônia. O romantismo, os problemas de comunicação, a violência gratuita, a ingenuidade da juventude são os verdadeiros protagonistas dessa história secular e imortal.

Não menos importante que a releitura, no entanto, foi a criação gráfica e imagética realizada pelos gêmeos Marcelo e Marconi Drummond, premiada dupla de designers gráficos mineiros que inventou, em parceria com Ana Elisa e com a editora RHJ, um livro maravilhoso, criativo, divertido, um objeto de coleção. O ponto de partida da identidade gráfica são as pichações obtidas da famosa Casa de Julieta, em Verona, cidade italiana onde originalmente se passa a história. Textos explicativos ao final e o posfácio de Maria Valéria Rezende completam, para o jovem leitor, o entendimento desse livro sensacional, merecedor de leitura, fruição e estudo, pela multiplicidade de camadas de texto que contém.

https://rhjlivros.com.br/#!/Romieta-e-Julieu-tecnotrag%C3%A9dia-amorosa/p/314726240/category=0

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