Todas as coisas pelas quais

O que seria o dom da palavra sem o chamado da escrita? O que seria do olhar agudo sem a tradução analítica? O que seria da escuta profissional sem o poder da transmissão afetiva e afetuosa da matéria processada? O que seria, enfim, da leitura sem a letra digerida e antropofagicamente recriada, transcriada, pós-criada?

O caderno de notas vira caderno de desenhos. A lista de compras, chamado do desejo de cantar, e cantar, e cantar. E ouvir e sorrir. Na miscelânea de elisa arreguy maia tem poema comme il faut, mas também como ele falta. Tem crônica distraída e também palavra traída, retraída, contraída e subtraída da gaveta do esquecimento. Esquecer, sim, se preciso for. Forcluir, jamais.

Todas as coisas pelas quais é reunião de textos variados produzidos ao longo de décadas, ao correr da emoção sobre os sentidos e desses sobre a folha de papel. A tecnologia reinventa a técnica da livre criação, forma e conteúdo − forma é conteúdo, claro. E não haveria livro sem Paulo Fatal embarcado na viagem de elisa, com ela percorrendo as delícias da educação pela letra que ela, Sísifo poeta, assume, mata no peito e requebra, tirando o leitor para dançar no embalo de suas linhas, curvas e gorjeios.

Clara Arreguy, jornalista, escritora e editora