O mistério do pólen

A narrativa de Márcio Metzker revela desde as primeiras linhas o domínio do ofício que só tem quem passa a vida inteira escrevendo todo dia. É o caso dele. Se em Utopia tropical ele havia derramado aventuras, descrições, romance, história e imaginação sobre 600 páginas que se leem sem embaraços, aqui, no menos caudaloso romance O mistério do pólen, a trama se desenvolve na velocidade do ciclo vital de uma flor.

Trata-se disto, exatamente: de uma criatura mais para o reino vegetal do que animal, travestida de bela jovem que traz em si, em seu corpo e energia, a mensagem da natureza que se impõe sobre as agruras da vida real. Na vida real, João é um repórter fotográfico às voltas com a cobertura de crimes, festas, pautas do cotidiano de uma redação de jornal. No entanto, no meio do caminho havia não uma pedra, mas uma flor. A mais perfumosa delas.

Dália é a menina que João salva de um delinquente prestes a cometer uma violência sexual. O instinto de proteção do fotógrafo a defende até dele mesmo, que se impõe o respeito devido a uma adolescente. Mas os mistérios de Dália são insondáveis. Em breve a menina cresce, encorpa, se faz mulher, adulta e plena, dona de seu corpo e de seu desejo, e aí é hora de João e ela viverem a paixão que já se selara entre eles.

Dizia o poeta que são demais os perigos desta vida pra quem tem paixão. João, por exemplo, abre mão de uma vida pouco glamourosa e sem sentido transcendental para abraçar o sonho de voltar à natureza, à lida no campo e com os animais, numa borda de parque nacional em que novamente a utopia, sempre ela, se faz presente. Dália é a catalisadora de toda a fertilidade que advém do amor completo vivido por eles e por quem os rodeia, seja gente, bicho ou planta.

Mas os sonhos também estão sujeitos a enigmas, e depois de uma curva há sempre o inexorável para atropelar os planos mais perfeitos. Em O mistério do pólen, Márcio Metzker nos conduz pelos caminhos amorosos e idealistas de João e Dália, pelas paisagens de uma natureza conhecida e ainda assim repleta de surpresas.

Clara Arreguy, jornalista, escritora e editora