O insondável propósito dos insetos

Caudaloso, cachoeirante, enigmático, farto, enriquecedor, inquieto, inesperado, atmosférico, indigesto. Adjetivos são insuficientes para este registro literário de uma existência humana pautada pela arte.

Ao abrir O insondável propósito dos insetos, fui surpreendido por uma viagem inédita ao desconhecido. Não pelas guerras, pelas doenças, pela discórdia, como acontece ao destamparmos a Caixa de Pandora. Aqui como lá, resiste a esperança, o testemunho de um autor inebriado pelas palavras e pelo silêncio da ausência. Como se estivesse psicografando a si mesmo, Paulo Fatal faz desabar memória, poesia, concretudes, em uma palavra: vida.

Como não sucumbir ao extremo exercício do enigmático mundo da suprarrealidade?

Este livro nos causa a mesma estranheza da barata de Franz Kafka, é óbvio. De princípio, me achei chinês, pois mastigava baratas e gafanhotos. Mas nada disso. Logo me transferi ao universo crocante das ideias inesperadas e inovadoras. Ecos da realidade, vácuos da existência: tudo contém o absurdo, o inexorável reviver em palavras o que é intangível.

Deixo aos leitores as impressões posteriores. Ouso afirmar que O insondável propósito dos insetos nos conduz à riqueza dos vocábulos, a enredos esfuziantes e ao emocionante frigir dos cinco sentidos. Literatura de qualidade é assim.

Murilo Antunes, poeta e compositor