Touros, tapas e meias pretas – crônicas de uma brasileira em Sevilha

Desde que conheci Carina Ávila percebi uma imensa afinidade entre nós. Meninas que gostamos de futebol, de escrever e de viajar, que somos friorentas e distantes da vaidade feminina ditada pelo senso comum, nos encontramos nestas crônicas sobre Sevilha que Carina, com paixão, defende como a produção de vulto que elas de fato representam.

Os 40 textos que compõem Touros, “tapas” e meias pretas podem ser lidos separadamente, mas o gostoso mesmo é apreciá-los em conjunto, por formarem o mosaico de uma ampla e substanciosa reportagem sobre a cidade descoberta e amada pela autora, sobre a Espanha, sobre aquela cultura e aquele povo.

Carina usa a linguagem leve e fluida da crônica para se aprofundar em diversos aspectos de seu “objeto de estudo” e consegue com mestria combinar os olhares de repórter e de fã apaixonada. Se é para contar tudo que seja com emoção, pois assim se faz melhor a vida de quem viaja, se insere numa cultura e se permite a troca sem resistência.

Com este trabalho escrito para concluir um curso de jornalismo Carina Ávila se credencia como repórter, observadora e redatora de mão cheia. Mas adentra também, sem cerimônia, o mundo das letras, dos escritores que valorizam a palavra e o poder que dela emana.

Jovem e madura, Carina possui ainda uma qualidade que me conquistou desde o início da leitura do livro: o senso de humor. Felizes os que se permitem rir da vida e com a vida, rir de si mesmos, não se levar tão a sério. Duvido que alguém resista a acompanhá-la na dificuldade em passar um creme hidratante, na superposição de seis blusas de frio, no sonho com o craque do Real Madrid ou no encontro marcado com Jesus no Santuário…

Clara Arreguy, jornalista e escritora