Eu sempre atrasada com minhas resenhas – não com as leituras, que sem elas não vivo. Tanta coisa legal e importante que tenho lido. As mulheres, as mulheres negras. Vou falar de duas delas, mesmo sabendo injusto o “dois em um”:

– de Brasília, a grande Cristiane Sobral, que conheci no encontro regional do Mulherio das Letras e de quem me tornei fã. Poeta, dramaturga, atriz, agitadora cultural, Cris Sobral vem transformando a vida de quem a lê. Ouvi testemunhos importantes, como o da Gina Vieira Ponte, sobre como a poesia da Cris toca seus alunos pobres, jovens, de periferia, desacostumados de uma voz que ecoe sua realidade. Em “Não vou mais lavar os pratos” (edição da autora), ela fala de mulheres como ela, mas não de forma vitimizada, e sim valorizando a força e a beleza de ser o que é. Da revolta à consciência. Da opressão ao poder de cada um. Bom como militância política, melhor ainda como expressão poética. Ainda não li os outros livros dela, mas pretendo fazê-lo logo, pois Cristiane Sobral é tudo de bom!

– de Gana e dos Estados Unidos, Yaa Gyasi, em “O caminho de casa” (Rocco), traça um histórico de duas irmãs africanas que nunca se conheceram, mas cujos descendentes protagonizam a trajetória que leva das tribos africanas à escravidão, do continente mãe à construção dos Estados Unidos, os períodos mais brutais vivenciados pelos negros desde as plantations ao século XX, com o movimento pelos direitos civis e a contemporaneidade. São mil histórias paralelas ou entrelaçadas, cuja estrutura me lembrou a de “A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas”, de Maria José Silveira, que também faz uma genealogia desse tipo. Yaa conta histórias, emociona e traça um painel de um vasto período e suas transformações.

Dois livros de mulheres negras que amei e que iluminam a falta de visibilidade geral. Beijos!