É bom começar a semana falando de um dos meus autores favoritos, o judeu americano Isaac Bashevis Singer. Nascido na Polônia em 1902 e emigrado para os Estados Unidos em 1935, na ascensão do nazismo, Singer escrevia em iídiche, foi um defensor e divulgador desse idioma, e construiu uma obra que extrapolava a questão do povo judeu – seu tema mais evidente – para pensar a vida e a morte, o bem e o mal, a humanidade com suas grandezas e fraquezas. Ganhou o Nobel de literatura em 1978. Morreu em 1991.
“A morte de Matusalém” faz parte de uma série lançada pela Companhia das Letras em comemoração aos seus 25 anos como editora. Edição com capa dura, tratamento de luxo, faz justiça a uma coletânea de contos que reúne obras-primas do escritor. Entre aldeias europeias do início do século XIX, com seu misticismo e perseguições, e uma América onde judeus assistem de longe ao Holocausto de parentes e amigos, os contos tratam de releituras bíblicas, como no que dá nome ao volume (uma facada na humanidade), e da vida de gente comum, narrada por um escritor que tinha o dom de atrair quem queria contar sua história.
A traição feminina é onipresente. Os personagens de Singer estão em constante desconfiança de mulheres que mentem, trapaceiam, destroem a vida de quem a elas se entregou. Pessoas que o procuram para relatar seus fardos não faltam. Até o Brasil comparece. Singer conta que estava num navio indo para a Argentina fazer uma palestra e acabou parando por um tempo no porto de Santos, quando foi convidado e desembarcar e conversar também com alunos e leitores brasileiros.
O autor de outras obras-primas como “No tribunal de meu pai” e “Sombras sobre o Rio Hudson” teve algumas de suas narrativas adaptadas para o cinema, em filmes como “Inimigos: uma história de amor” e “Yentl – o menino da yeshivá”. O livro traz ao final um glossário de termos e usos da cultura e da religião judaica.
Beijocos!
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