Um presente e tanto ganhei de aniversário de alguém que entende tudo de livros, minha amiga e presidente Iris Borges. Ela me deu “A arte do romance”, de Milan Kundera (Companhia das Letras), mais que útil para quem, como eu, quer e tenta investir cada vez mais na literatura, no fazer literário.

O livro é uma aula sobre o romance, tomado como gênero que surgiu com Cervantes e “Dom Quixote” e que tem na Europa (tomada também como as Américas!) sua expressão principal. Kundera analisa diversos autores e estilos, os que ele mais aprecia, certamente, mas aprofunda-se especialmente em Kafka, Broch, Musil, Diderot.

Em sete partes, o escritor tcheco cita momentos e movimentos que não deixam de tecer uma trama com a filosofia e a política, pois produtos de seres humanos em suas circunstâncias; analisa a própria obra, explicando aspectos como a fixação no número sete, que atravessa seus romances; e dialoga com um jornalista sobre os principais temas que lhe interessam entre os estudos literários.

Algumas colocações me chamaram a atenção: Kundera não aceita dar entrevistas, pois considera que elas discorrem sobre o que interessa ao jornal ou ao jornalista, e não ao entrevistado, e porque a edição piora mais as coisas, ao deixar como palavras do escritor afirmações que ele não produziu. Por isso recorre a esses diálogos, em que definem conjuntamente a pauta e ele revisa o que disse.

Outra: garante que quanto mais a vida de um escritor se revela, mais sua obra se perde. Por isso é contra biografias: “No momento em que Kafka atrai mais atenção que Joseph K., o processo de morte póstuma de Kafka se iniciou”.

Beijus!

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