Outro excelente livro ambientado no período ditatorial é “A morte do diplomata” (Tema Editorial), do Eumano Silva. O autor foi meu colega na redação do Correio Braziliense e dele li um dos melhores relatos sobre a Guerrilha do Araguaia, “Operação Araguaia”.
Aqui novamente se trata de reportagem que Eumano levou alguns anos para investigar e que, dada sua complexidade, permanece eivada de dúvidas. O livro narra a história de Paulo Dionísio de Vasconcelos, um diplomata brasileiro encontrado morto dentro de seu carro em Haia, na Holanda, onde exercia a função de segundo secretário da Embaixada do Brasil, em 1970.
Paulo Dionísio era mineiro, casado com Maria Coeli, filha do deputado Manoel de Almeida, e fez carreira no Itamarati, sempre sério e respeitado. Pelo que apurou Eumano em depoimentos, documentos e todos os relatos, não havia “esqueletos no armário” de sua vida particular. Não integrava grupos de resistência à ditadura, embora tivesse suas críticas a situações que ocorriam na época, como as torturas denunciadas por exilados e militantes dos direitos humanos.
No entanto, morreu violentamente, com cortes no pescoço e no pulso, e a investigação da polícia holandesa concluiu, em 24 horas, que houvera suicídio. Ele andava meio atormentado por um imbróglio no aluguel de seu imóvel, em Brasília, mas pelo temperamento e pela condição que vivia – sua mulher estava grávida de oito meses e eles tinham uma filhinha de dois anos -, dificilmente amigos e família aceitariam a tese do autoextermínio sem provas robustas.
Após a morte, surgiram cartas de chantagem dirigidas a Paulo Dionísio, numa situação que mais parece erro de pessoa do que algum segredo inconfessável da vítima das ameaças. No entanto, essa linha de investigação não foi assumida nem pela polícia holandesa nem pelo governo brasileiro. Passados mais de 40 anos, agora pouco se consegue apurar. As perguntas seguem sem resposta e o subtítulo do livro – “Um mistério arquivado pela ditadura” – é o que melhor define o caso.
A história de Paulo Dionísio intriga, entristece, mas sobretudo ajuda a jogar luz sobre a treva do autoritarismo e do obscurantismo que muitos, por ignorância e/ou má-fé, ainda teimam em querer reeditar.
Beijocas!
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