No começo da leitura de “O náufrago que ri” (Record), de Rogério Menezes, impliquei muito com alguns maneirismos do autor. Como a supressão sumária de todos os artigos indefinidos e a repetição excessiva de falas de personagens. Quando entrei para o Correio Braziliense, os revisores tinham esta mania: de cortar o um e o uma das matérias. Incomoda-me falar “Desponta em curva próxima mulher rechonchuda, baixota. Tenta caber em biquíni minúsculo”. Por que não usar o um e o uma? Bom, escolhas de cada um. Ou de cada.
Comecei, então, implicando com a falta dos artigos indefinidos e com as repetições, mas aos poucos fui me apaixonando pelo personagem narrador, o gato Rafic, com sua erudição, suas paixões felinas, suas observações críticas. E apreciei também a história de seu dono, com seu universo de jornalista decadente, o mundo glamouroso também em declínio, a vida dissipada de drogas e sexo frenético igualmente se dissipando com os novos tempos, o fim de uma era para uma elite que se pensava poderosa, mas que deu com os burros n’água.
Acho que o autor escreve bem, compõe personagens ricos e interessantes, de qualquer ponto de vista. A ponto de ter-me feito esquecer dos maneirismos com os quais implicava e me levado a me concentrar somente no enredo.
Beijos!
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