Ao ler “Sócrates Brasileiro. Minha vida ao lado do maior torcedor do Brasil” (Editora Prumo), de Kátia Bagnarelli, com participação de Regina Echeverría, tive a mesma sensação que senti quando li “Caminho das borboletas”, escrito por Adriane Galisteu, sobre sua relação com Airton Senna. Ambas mulheres amadas por ídolos de um país que tinha ciúme e de alguma forma rebaixava a relação deles com suas amadas.

Mais de 20 anos já se passaram desde que a história de amor de Galisteu chegou ao fim. Ela teve tempo de sobra pra provar seu valor e tocar sua vida. Com Kátia Bagnarelli não se dá o mesmo. Sócrates morreu em 2011, eles ficaram juntos menos de dois anos, ela foi alijada de seu velório e sepultamento por uma família enciumada e por outros interesses que ela conta, uns, e insinua, outros, no livro. Tudo na versão dela, claro.

Por ter a necessidade de gritar ao mundo a linda história de amor que viveu em tão curto espaço de tempo, a autora – jornalista e produtora – usa boa parte do livro narrando intimidades constrangedoras, como a troca de e-mails e juras entre eles nos raros momentos em que se separaram durante alguma viagem. Dá pra saltar essa parte sem perder nada.

Já no que se refere a traçar um perfil daquele grande cidadão, atleta, amigo e companheiro, o livro dá conta do recado. Sócrates foi um homem inteligentíssimo e que dedicou seus talentos à construção do bem comum. “Inventou”, junto com personalidades como Casagrande e outros, a Democracia Corintiana, movimento que surfou na onda redemocratizante vivida pelo país nos anos 1980. Participou da luta pelas Diretas Já. Discutiu direitos trabalhistas para jogadores, denunciou corrupção e desmandos na CBF. Politizou relações que o status quo pretende manter na inércia da manada. Pensou. Ensinou a pensar. Fez pensar, num ambiente em que hoje prepondera a alienação.

Sócrates faz falta demais ao Brasil. Foi ídolo, foi modelo. Por dar voz a ele, com seus sonhos e ideais, o livro de Kátia Bagnarelli já valeria a leitura. Ainda mais porque ela reproduz casos pessoais escritos por ele, fatos engraçados, divertidos ou dramáticos. Se é preciso uma dose de “novela” para que ela consiga se expressar, tentemos entender o sentimento da moça. Viver um grande amor e perder um grande amor não é para os fracos.

Bjs!