Já faz dez dias que recebi a mais temida notícia, a da sua partida, Lucília, e ainda não havia conseguido escrever sobre você, pra você. Antes de escrever, porém, fui procurar uma boa foto nossa, e a melhor que achei foi esta, num lançamento meu. Havia várias, porque você, lealmente, estava sempre presente, nos meus, nos dos amigos, nos dos amigos dos amigos. Sempre com este sorriso perfeito, de pessoa transparente, verdadeira, bela.

Tinha outra foto da qual gosto muito: na Flipiri de 2016, quando fomos passear na cachoeira. Eu, você, Vladimir, Iris, Rogério e Angélica, Ignácio e a mulher. Estamos todos ensopados de água e lama, roupas de banho, cabelos desgrenhados, e felizes, felizes. Entre amigos e em contato com a natureza.As fotos da sua entronização na Academia, quando a Margarida Patriota leu o maravilhoso texto que escreveu sobre você. As da sua palestra sobre Guimarães Rosa, ao lado do Vladimir, falando sobre José Lins do Rêgo, um momento sublime de louvação à literatura, à palavra, aos mistérios e magias que só os bons autores e livros nos propiciam.

Revejo fotos, releio textos, como a carta da professora Gina Vieira Ponte sobre a importância da sua palavra, Lucília, na construção do destino dela, Gina. Reli seu livro Técnica de Redação pra me ajudar a conduzir o Aulão do Enem que faríamos juntas na Flipiri deste ano e da qual tive que me desincumbir sozinha no dia do seu sepultamento. Como fazer isso sem você?

A nossa Flipiri, que você ajudou a criar e a conduzir nessas onze edições, foi um evento de sentimentos extremos. Choramos muito a cada vez que lembrávamos da sua ausência. A cada abraço de condolências, e foram tantos e tão vitais! Mas também ríamos e sorríamos diante das lembranças de tantos momentos únicos vividos ali. Nós duas dividindo o quarto, eu na sua carona de Brasília a Pirenópolis, ida e volta de confidências, fofocas, planos, casos e piadas.

Chego em casa exausta de cinco dias de tanto trabalho e tão fortes emoções e encontro à minha espera os vasos de plantas que você fez pra mim quando vim morar neste apartamento. Elas estão bem, amo-as como amo você. Elas, mais que nunca, são o nosso diálogo diário sobre o mais sublime e o mais terreno. São a força da vida que você ensinou e espalhou. São sua declaração de amor pra mim, correspondendo a tanto amor que te tenho desde que te conheci ao entrar pra Casa de Autores.

Pelo legado dos seus livros e pela herança das suas plantas, converso com você todos os dias, e isso me consola de não poder pegar o telefone e te ligar praquela prosa leve e inteligente. Se é que há consolo pra nunca mais te encontrar, pelo menos te sinto presente em tudo ao meu redor. Esse mundo de livros e palavras e poesia e força vital que você emanava e repercutirá pra sempre.

Fico pensando na brincadeira que você fazia a cada vez que eu te mandava um dindim por livro vendido: Clarinha, assim nós vamos enricar! Já enriquei, minha amiga. Já enriquei!

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