Que beleza o filme “Flores Raras”, de Bruno Barreto, sobre o romance entre duas mulheres, a arquiteta Lota de Macedo Soares e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop. Li há muitos anos o livro “Flores Raras e Banalíssimas”, de Carmen L. Oliveira, no qual se baseia o filme, então estava ansiosa por conferi-lo. Trata-se essencialmente de uma linda história de amor, um amor diferente do convencional, mas prova da máxima do poeta: qualquer maneira de amor vale a pena!
Como era de se esperar, Glória Pires está maravilhosa no papel da mulher que deu ideia ao governador do Rio, Carlos Lacerda, e criou com as mãos o parque do Aterro do Flamengo, onde estive passeando no último fim de semana, em homenagem pessoal à alma de artista que concebeu tudo aquilo. Glória é uma atriz visceral, ela se transforma nas personagens que vive. E Lota era personalidade ímpar, ousada e anos à frente da mentalidade moralista vigente.
Mas também a atriz Miranda Otto dá verdade e beleza à poeta torturada pelos próprios conflitos, tolhida pela repressão e pela autocrítica que beira a autocensura, uma artista maior na poesia de seu país e de seu tempo.
A única nota que destoa do todo é a figura de Carlos Lacerda, mostrado no filme como homem sensível e delicado, mas conhecido na política como o corvo que rivalizou (até as últimas consequências) com Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Em que pese a boa interpretação de Marcelo Airoldi, perde-se o personagem histórico que foi um dos grandes nomes da UDN naqueles anos 1950 e ajudou conceber e executar o golpe de 1964.
Beijocas!
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