Lemos e discutimos no nosso grupo de leitura de autores de Brasília a coletânea de contos “Beijando Dentes” (Record), de Maurício de Almeida, um antropólogo que mora há não muitos anos na capital e que, com essa obra, ganhou o Prêmio Sesc de Literatura em 2007.
Merecido prêmio, por sinal. O conjunto de 13 contos que compõe o livro traz algumas marcas muito próprias do autor, das quais destaco duas: a primeira, um tom teatral dado não apenas pela força dos diálogos, mas pela própria estruturação de cenas, como no teatro. Isso pra mim é qualidade, não defeito.
A segunda característica é um trabalho tão esmerado no burilar das palavras e frases que o texto se aproxima da poesia. Seria, então, uma prosa poética em tom de teatro. Mas não, são contos. Ou melhor, é tudo literatura de alta qualidade.
Nos contos, a densidade define personagens e situações. Como observou nossa colega Rosângela Vieira Rocha, amargura demais para um escritor tão jovem. Jovem, mas artista na composição do texto, sofisticado na eleição de estruturas e palavras. Cuidadoso no desenho quase gráfico de cada conto, de cada parágrafo.
“Beijando Dentes” não é fácil de ler. Muita coisa dói, incomoda, perturba. Há referências a autores que o influenciam, mas muita personalidade na realização de tudo. Não se lê o livro de uma sentada, um conto atrás do outro. Sua leitura requer digestão, tempo, respiro. O resultado, porém, é a conclusão de que estamos diante de um grande escritor.
Beijinhos!
Posts recomendadosVer Todos
Delicada e forte carpintaria literária
Diferentes emoções numa impressionante coleção de contos
Silêncio! Precisamos ouvir o canto da iara
Nas alturas escarpadas da estética
Falta de pensamento e de contato com a realidade, e a canalhice de sempre
Meu mais novo amigo de infância