O escritor Paulo Vilara, mais conhecido em Minas pelas crônicas em defesa do América Futebol Clube, segundo time no coração de quem não é americano, como eu, lançou recentemente, em produção independente, o belo livro “Manhãs com Pássaros”, reunião de histórias curtas ou curtíssimas.
Dividido em três partes – Subsolo, Chão e Céu -, pode-se dizer que o subtítulo do volume resume sua aposta: exercícios de síntese. As narrativas são uma forma de prosa, mas não deixam de ser também exercícios poéticos, como se pode observar em “Assim é melhor”:
“O desejo é forte, mas evita entrar, sentar-se e pedir uma bebida. Prefere caminhar pela cidade, pois está convencido de que a solidão, quando em movimento, não é notada.”
Ou em “Todos os dias”:
“O poder, podre, apodera-se, apodrece.”
Assim como esses sintéticos versos livres, outros se intercalam a contos curtíssimos, como “Urgência”:
“Não sabe ficar só. O cachorrinho morreu, comprou outro.”
Como se vê, seja contando uma história, fazendo reflexões ou tecendo metáforas, Paulo Vilara trabalha as palavras em composições precisas, econômicas, fortes e delicadas, ao sabor da ideia ou da emoção.
Lê-se “Manhãs com Pássaros” nesse ritmo, cantando cada texto como uma canção. Sorve-se num só fôlego, observando a cidade, a gente ou a natureza com os olhos do poeta prosador.
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