“Hoje é sábado, amanhã é domingo/ Amanhã não gosta de ver ninguém bem/ Hoje é que é o dia do presente/ O dia é sábado.” Um dos versos do Dia da criação, de Vinicius de Moraes, inspira e faz pensar. O poema é longo, contundente, enquanto o sábado é veloz, contém plantão e, provavelmente, um chuva daquelas.
Nostalgia da praia em tempo de verão. Aquela praia de mineiro, Guarapari ou Cabo Frio, em que a meninada curtia a pele, cultivava a bunda branca, aprendia a liberdade, exercitava braçadas no mar, espiava os corpos no chamamento da adolescência, que trazia experimentos com beijos e sonhos.
Verão, para quem trabalha sem perspectiva de férias, sugere revolta: ah, que vontade de estar tão longe do Planalto Central, numa esquina qualquer dos oito mil quilômetros de litoral que este Brasil gigantesco possui, olhando as ondas irem e virem, imaginando que um dia, no futuro, a força das águas geraria energia barata, limpa, acessível – o futuro chegou, como o sábado.
Hoje é sábado, dia de celebrar entre copos – “Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”, prossegue o Poetinha. Dia de procurar piscina ou cachoeira, já que o flashback da Praia do Morro passou, aquela vastidão que se descortina da janela não passa de ilusão de ótica, mar seco, cerrado, cerrado, cerrado.
Hoje é sábado de verão, quando tanto sol e tanta água deveriam representar vida e, ao contrário, sinalizam morte – na estrada, nos buracos do caminho, na doença, no esquecimento. Sábado não poderia ser dia de lágrimas e saudades. É tempo de festa e celebração, fé e esperança.
Porque hoje é sábado, como diz o poeta, “há um beber e um dar sem conta”. Que seja um dia de lembrar, não de chorar. De elevar, não de entregar. De descobrir que a eternidade reside no coração, no fundo da retina que captura e não esvanece. Dia de orar pela força dos que se foram mas vão sempre ficar. Sempre, sempre, sempre.
ps – publicado hoje, no Correio Braziliense
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