Fiquei devendo à amiga Denise Amaral o comentário sobre o filme “A vida de Pi”, de Ang Lee, e agora ele está com uma porção de indicações ao Oscar, embora não tenha sido bem-sucedido no Globo de Ouro. Mas nem por isso deixa de ser um grande filme.
Na verdade, não quis fazer o post sem recapitular a história da denúncia de plágio que liga o livro do canadense Yann Martel ao do brasileiro Moacyr Scliar. Desde que entrevistei pela primeira vez o escritor gaúcho, que acabou por ficar meu amigo, fazer a orelha do meu livro de crônicas “Catraca inoperante” e morrer em 2011, eu sabia da história.
Que Scliar lançou seu “Max e os felinos” em 1981 e Martel lançou “Pi” em 2002, ganhando um importante prêmio literário. Que a ideia do náufrago que sobra num bote com uma fera veio primeiro no romance do brasileiro. Que era um jaguar num escaler, junto com um jovem judeu fugindo do nazismo, enquanto no livro do canadense era um jovem indiano com um tigre no salva-vidas. Que Scliar não considerava o caso como sendo plágio, apenas o uso de uma ideia que ele teve antes.
Enfim, nada disso tira o valor da obra do canadense, que Scliar nunca quis processar, apesar de instado por muitos a fazê-lo. Nem tira os méritos do filme, que navega nas profundas águas da fantasia, recriando belissimamente imagens, situações em que a questão da fé se coloca quando homem e natureza indomada são representados como metáforas da existência e de Deus.
Com a sensibilidade ímpar que tem, além de um elenco maravilhoso e de uma direção de arte de tirar o fôlego, Ang Lee e seu “Pi” têm tudo para se dar bem no Oscar. Quem ainda não viu, aproveite o cinema em 3D, que permite mais ainda a viagem poética.
Beijos!
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