As primeiras viagens que fiz com amigos foram com o Ney, meu primo, no inicinho dos anos 1990. Ainda sem muito dinheiro, mas com a criatividade de sempre, compramos uma passagem de ida de BH pra Fortaleza e a de volta saindo de Maceió. No miolo, pretendíamos conhecer o Nordeste, sem muitos planos de onde nem quantos dias ficaríamos. Na linda capital cearense tínhamos outra prima, a Elena, que morava lá na época e nos conseguiu hospedagem com uma família amiga.

Circulamos bastante por ali com e sem a Elena, fomos ao Cumbuco e a Canoa Quebrada, comemos muito caranguejo, tomamos muita cerveja gelada, até que chegou a hora de seguir em frente. Pegamos um ônibus e rumamos pra Natal. Ficamos num albergue e desfrutamos as delícias de Ponta Negra, Genipabu, Pipa, Morro do Careca, vivemos aventuras e fizemos amigos. Beleza sem fim, areias brancas, água quente, dunas com e sem emoção. Mas chegou a hora de ir embora, então tomamos uma decisão que custou um pouco mais caro do que os planos iniciais, mas que nos deu maior mobilidade: alugamos um carro, seguindo dali em diante motorizados.

Pelo pouco tempo de que dispúnhamos, como jornalistas em férias (na época, eu ainda era do Estado de Minas e ele, do Hoje em Dia), não poderíamos parar em todos os destinos que nos tentavam. Então fizemos um pit stop em João Pessoa só pra almoçar e fomos em seguida direto pra Recife. Não tínhamos intenção de ficar na capital. Queríamos era sombra e água fresca – de preferência, de coco. Foi então que alcançamos outro pequeno paraíso na terra: Porto de Galinhas. Ali me senti tão bem que prometi voltar. Como o fiz, anos depois, sozinha ou com meus pais e irmã.

Porto de Galinhas era a base de onde saíamos pra dar rolês no entorno. Lá e nas imediações, extensas praias vazias, de também de areias até brilhantes de tão brancas, mornas águas verde-esmeralda, fileiras de coqueiros a emoldurar a paisagem de céu sempre límpido e azul profundo. Até então, nunca tinha estado num lugar tão apaziguador, tão relaxante para o corpo e o espírito. Dava vontade de ir ficando ao som do meu amigo Hyldon: “eu vou/ esquecer de tudo/ das dores do mundo/ não quero saber quem fui/ mas sim o que sou”.

Não fiquei. Seguimos viagem para Maceió, onde novamente um albergue da juventude nos abrigou e colocou em contato com novos amigos e novas aventuras. A mais chata delas, ter que parar em barreiras policiais a cada vez que o então presidente da República, o collorido playboy de plantão, resolvia dar o seu rolê de jet ski. Isso nos aconteceu a caminho da Praia do Francês. Num calor escaldante, ficamos parados um tempão na estrada esperando o comboio presidencial ir ou vir daquele delicioso ponto turístico onde também queríamos passar o dia.

De Maceió não dava mais tempo de ir a lugar nenhum, então tratamos de embarcar no avião e voltar pras nossas casas, nossas redações, nossas temporadas de onze meses de estresse e trabalheira, até que no ano seguinte pudéssemos novamente voltar a ser nós mesmos, despidos da máscara de jornalistas responsáveis.

***

Nessas viagens, sempre rola uma paquerinha com algum desconhecido ou desconhecida com os quais cruzamos pelo caminho. Não foi diferente na turnê nordestina que fizemos, Ney e eu. Num belo dia, conhecemos um argentino divertido, interessante e, não vou negar, bem bonitão. O Pablo se colou a nós numa praia, numa tarde em que tomamos mais cerveja do que sol. Cerveja vai, cerveja vem, acabamos sem condições de voltar pra cidade, pois estávamos, como se diz na minha família, de tanque cheio – e longe da base.

Passamos a noite mais ou menos acampados na barraca de praia onde consumíamos mais álcool do que peixe frito, mas que providenciava banheiro e nos abrigava quando nos cansávamos de curtir a areia morna, mesmo à luz da lua. Nos dias seguintes, ainda vimos o Pablo algumas vezes, depois cada um tomou seu rumo.

De volta à vida cotidiana, troquei cartas com o argentino nos primeiros tempos, comentando os passeios de cada um, até que, pra mostrar meu trabalho, mandei pra ele um recorte de jornal com uma crítica minha a um filme. Ele respondeu rapidamente, encantado com meu texto e minha capacidade crítica:

– Que matéria incrível! Muito boa, mesmo! Nem parece que foi você quem escreveu…

Essa carta do Pablo ficou sem resposta.

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