Já ouvira falar de José Antônio de Souza, dramaturgo mineiro radicado em São Paulo, contemporâneo do meu tio João Etienne Filho no teatro e da minha mãe no TU (Teatro Universitário da UFMG), na virada dos anos 1950 para os 1960. Peças dele como “Oh Carol” e “Crimes Delicados” tiveram diversas encenações. Além do mais, escreveu séries e novelas de TV.
Ainda não tinha lido dele o romance “Paixões Alegres” (Editora Globo, 1996), do qual também eu recebera ótimas indicações. Adiava por se tratar de livro extenso, que requer tempo e dedicação. Afinal, o li no último mês, entre muitas ocupações, mas tendo a atenção suficiente para sorver com calma a escrita densa, poética, filosófica, que embala uma deliciosa história de amor. Múltipla.
Vista assim de primeira, o romance narra a improvável paixão entre um menino de 12 anos, Doca, e a mulher de seu primo, Isabel, de 25. Para construir a credibilidade da relação entre esses dois, o enredo cresce lentamente, mas o faz da melhor maneira: mergulhando no entorno do casal, a cidade de Januária, à beira do São Francisco, em 1950.
Aí vem o melhor do livro de Zé Antônio: a construção histórica, sociológica, cultural, da região ribeirinha do Médio São Francisco, com seus marinheiros de água doce, as famílias, as festas, tradições, personagens folclóricos e fatos marcantes para aquela comunidade, que ganha vida entre a memória e a vivência vívida de episódios como a Copa do Mundo que o Brasil perdeu, as disputas políticas entre UDN e PSD, a enchente do rio, que desabrigou parte da população, os loucos, as donzelas encarceradas, o progresso em curso, um sem fim de reminiscências que dariam um filme, dois filmes, três filmes…
Em meio a tudo isso, o romance entre Doca e Isabel cresce e amadurece, a narrativa dá uma guinada devido a um crime, a um julgamento, outros rumos que igualmente prendem o leitor inexoravelmente até a última linha de suas mais de 700 páginas… Imperdível… mas reserve tempo para lê-lo com a devida calma.
Beijos!
Posts recomendadosVer Todos
Delicada e forte carpintaria literária
Diferentes emoções numa impressionante coleção de contos
Silêncio! Precisamos ouvir o canto da iara
Nas alturas escarpadas da estética
Falta de pensamento e de contato com a realidade, e a canalhice de sempre
Meu mais novo amigo de infância