A primeiro noite competitiva do Festival de Cinema de Brasília começou com dois documentários. O principal foi o longa “Outro Sertão”, de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela, uma trabalho espetacular de pesquisa histórica sobre Guimarães Rosa. O filme conta a atuação do escritor como cônsul em Hamburgo durante a II Guerra Mundial e mostra que o autor magistral de “Grande Sertão: Veredas” foi uma espécie de Schindler brasileiro.
Com farto material áudio-visual e depoimentos de várias famílias salvas do nazismo por ação direta de Rosa e de sua companheira, Aracy, que também trabalhava no consulado da cidade alemã e providenciava vistos de turista contra a determinação dos governos brasileiro e alemão, o filme vai fundo em nomes, números e registros históricos.
Os mais impactantes são cartas e anotações do escritor numa espécie de diário que ele mantinha. São marcantes impressões do povo e da cultura alemã, que ele tanto admirava, modificadas pela guerra e pelo nazismo, pela perseguição aos judeus e pela submissão ao regime totalitário. A locução da “voz” de Guimarães Rosa é feita pelo ator Rodolfo Vaz. E há ainda uma deliciosa entrevista concedida pelo escritor a um crítico literário alemão, já em 1962, em que ele explica um pouco sua literatura.
Uma beleza de filme, com inestimável importância histórica e estética. Detalhe: até “Luar do Sertão” interpretada por Marlene Dietrich tem.
Já o curta “Luna e Cinara”, de Clara Linhart, que abriu a competição, limitou-se ao que é: trabalho de conclusão de curso, sem grande valor cinematográfico.
O outro sertão do Rosa.
Terezinha