Está em cartaz um dos melhores filmes da atualidade, melhor até que “As Sufragistas”. Trata-se de “Spotlight – Segredos Revelados”, de Tom McCarthy, com elenco estelar encabeçado por Michael Keaton e Mark Ruffalo. A história da investigação jornalística em torno do que se tornaria o maior escândalo de abusos de padres contra jovens e criança ganha ares de thriller, pela quantidade de obstáculos a transpor pelos jornalistas, pela emergência da verdade.
Spotlight é o nome da editoria de matérias especiais do jornal Boston Globe. Uma equipe de quatro pessoas investiga histórias que não cabem na apuração corrida do dia a dia do jornal. Quando a aposentadoria do diretor de redação propicia sua substituição por um jornalista mais jovem e menos envolvido com as forças de poder locais, pode finalmente emergir a denúncia de que o cardeal da região sabia dos crimes cometidos por religiosos nas barbas de todo mundo.
À medida que a apuração avança, os repórteres vão descobrindo que um padre ou dois viram dez, que esses dez viram 20, que esses 20 na verdade são 80! Pelo menos 80 padres vinham sendo sistematicamente transferidos e licenciados, sempre que eclodia alguma reclamação ou denúncia contra eles. Ou seja, a Igreja, como instituição, institucionalizava o ato de varrer pra debaixo do tapete os casos de pedofilia e abusos.
Por que “Spotlight” me toca como um filme de importância superior a todos que tenho visto ultimamente: em primeiro lugar, por mostrar como são graves as consequências para as vítimas de abusos, em geral crianças já vulneráveis e desprotegidas, que a custo sobrevivem ao inferno em que sua vida se transforma. Em segundo, mas não menos importante: por devolver ao jornalismo sua função de investigar, revelar, expor a verdade à sociedade, doa a quem doer.
Dói ver a religião usada para oprimir, violentar, maltratar. Mas o silêncio encoberto dói muito mais.
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