Com a correria em torno do projeto “Anjo de Pernas Tortas”, 30 pessoas em casa, etc. etc., fiquei devendo o outro documentário que assisti – é possível que nem esteja mais em cartaz, mas vá lá… É muito bom e merece ser visto. Trata-se de “Tim Lopes – Histórias de Arcanjo”, de Guilherme Azevedo e Bruno Quintella. Bruno é filho de Tim e estudou jornalismo após a morte do pai. Natural, então, que tenha feito da vida de Tim o tema de seu primeiro filme, uma investigação que pretende ir além do lead que qualquer matéria traz sobre o jornalista morto por bandidos enquanto apurava uma matéria no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
Com muitas imagens de arquivo e depoimentos de amigos, familiares e personagens envolvidos nas histórias de Arcanjo (o verdadeiro nome de Tim), o documentário acompanha a vida do jornalista pelo fio condutor das grandes reportagens feitas por ele. Não fica contando a historinha particular, mas dá um panorama do diferencial daquele profissional. Diferencial jornalístico e humano.
Tim Lopes era o tipo de cara que, se fosse fazer matéria sobre morador de rua, morava na rua durante um tempo, mergulhando de corpo e alma naquela realidade (na foto, ele com meninos de rua do Rio). Se fosse falar sobre estrada e caminhão, virava caminhoneiro durante semanas, punha o pé na lama e tinha o que contar, com veracidade e paixão. Assim foi a vida toda. Até a morte.
O filme discute uma questão que muitos colocam, de forma leviana: se o culpado da morte de Tim Lopes teria sido ele próprio, por “dar mole” pros bandidos ao tentar apurar uma matéria sobre exploração sexual nos bailes funks. Ele já havia ganhado prêmio nacional com a reportagem sobre a feira livre de drogas que rolava naquela comunidade (que permitiu à polícia prender dezenas), daí ter ficado marcado pelos criminosos do local.
Ora, no afã de realizar seu trabalho, com o mesmo profissionalismo e a mesma paixão, Tim tornou-se um mártir na questão da violência e na necessidade de pacificação das comunidades dominadas pela criminalidade por falta da presença do Estado. Sua morte teve como consequência a determinação dos governos de escolher politicamente a ação e não mais a omissão. A apropriação da Globo, sua empregadora, em torno do nome de Tim, não reduz em nada a importância dele como jornalista, homem político e cidadão. O filme mostra quão grande ele foi em todos esses aspectos.
Bjs!
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