Quem se propõe a ser escritor, como é o meu caso, encontra em obras como “A Maleta do Meu Pai”, de Orhan Pamuk, luzes e fortes motivos para reflexão. No livrinho, de pequeno formato e poucas páginas (Companhia das Letras), o escritor turco reúne três palestras proferidas ao receber prêmios internacionais. O mais importante deles, o Nobel de 2006.
As palestras discorrem sobre a arte da escrita, o ato de escrever, o sonho de ser escritor, os medos, desejos e prazeres de quem se obriga a sentar-se horas a fio, todos os dias, à sua mesa, em busca do romance, do mundo inventado ou recriado pela memória e pelo sonho. A história de vida de Pamuk, sua relação com o pai, com a arte, com a angústia, tudo isso compõe uma realidade que todos vivemos e à qual cada um reage à sua maneira.
Ele, com paixão pelo que faz. Se passou a infância e adolescência almejando tornar-se pintor, escolheu, aos 22 anos, a literatura. Dela faz seu remédio contra o tédio, contra a vida real, contra o fantasma que se torna sempre que não está em contato com ela. Ler e escrever bons livros, essa é sua missão. Uma missão que gente como eu abraça e faz dela seu desafio. Exemplo a ser adotado, com humildade, certamente.
Outra característica de Pamuk que me apaixona é ser um homem político, um cidadão que pensa e discute sua Turquia nas inflexões de um tempo de mudança. Os turcos se dividem entre pretender fazer parte da União Europeia, num esforço de paz e entendimento, ou radicalizar um estado islâmico fechado, em rompimento com uma democracia mais profunda e radical.
Além disso, Pamuk também ataca a opressão e repressão sobre os curdos, denuncia o massacre de armênios um século atrás – tema tabu em seu país – e foi até processado pelo Estado, devido a esse tipo de posicionamento político. Uma postura cidadã e consciente, que faz valer ainda mais toda a sua qualidade de grande escritor.
Beijão!
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