Nojo, novela de Divanize Carbonieri (Carlini Caniato Editorial), é um soco no estômago da sociedade intrinsecamente machista em que vivemos. Escrita num jorro, numa espécie de desabafo em vozes polifônicas de mães, filhas, gordas, anoréxicas, lésbicas, trans, jovens, velhas, sem pontuação, o livro escancara o que o corpo da mulher se torna para todos, mas sobretudo para nós, mulheres.

Somos feias, indesejáveis, inaceitáveis, carentes, dependentes do olhar do outro, da aprovação do outro, do julgamento e da condenação alheia. Porque somos imperfeitas. Temos estrias e celulites. Temos a testa grande, a bunda grande, as pelancas dos braços penduradas, cravos e espinhas e marcas e cicatrizes. E precisamos cobrir tudo isso, senão com o apagamento do próprio corpo e do próprio desejo, pelo menos com tatuagens que despistem nossa imperfeição.

É pesado, é duro, é muito real. Divanize domina a linguagem e a escrita, mas domina acima de tudo o entendimento da dor de ser mulher num mundo que objetifica e consome corpos como se não houvesse sujeito. Esse desnudamento faz de Nojo uma obra excelente, mas de difícil digestão, pois mexe com sensações que todos conhecemos: o nojo de mim, o nojo do outro, o nojo do diferente. Não é fácil, mas é fundamental.

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