Em Tropa de elite 2 – O inimigo agora é outro, o diretor José Padilha não só amadurece a leitura que faz do problema da violência no Rio de Janeiro (leia-se Brasil) como, ao politizar essa leitura, volta a uma questão dialética meio deixada de lado nas análises mais recentes (e rasas). A culpa é do sistema, diz ele, com todas as letras. E o sistema o que é? A política, com interesses de classe, de grupos econômicos, de grupos de pressão.
O capitão Nascimento (foto, um Wagner Moura ainda mais convincente), agora coronel, sai da esfera da atuação policial para adentrar a política, pela via de uma “promoção” em que pretendiam neutralizá-lo. Vai parar num escritório da Secretaria de Segurança Pública, mas, de olho na guerra que trava durante toda sua vida, consegue, a custo, costurar as ligações entre tráfico, milícias, policiais corruptos, políticos corruptos. A teia se constrói ao sacrifício de vidas, culpadas ou inocentes: policiais corruptos tomam dos traficantes o poder nas comunidades. Ali enriquecem ao comercializar, para dentro, serviços e “segurança” e, para fora, votos e “paz”.
Quando decifra a nova equação, Nascimento se vê pessoalmente envolvido em confusão, pois seu outrora maior inimigo, o “cara dos direitos humanos”, agora é marido de sua ex. Seu filho (nascido no filme anterior) agora está na linha de tiro dos bandidos. E o “esquerdista” que ele tanto odiava passa a ser o único aliado confiável. Política, enfim.
Tropa de elite, filme de ação e algum questionamento, deu lugar a O inimigo agora é outro, thriller político com muita ação. Uma categoria tão boa quanto, mas bem mais respeitada de cinema, por suplantar o mero entretenimento rumo a uma arte que faz pensar e debate as mazelas da nossa sociedade. Mais atual e importante, impossível.
Beijus!
Excelente seu comentário.
Saí do cinema com vontade de anular meu voto para presidente neste dia 31/10/10.
Terezinha Pereira