Um livro de poesia chegar à segunda edição é feito a ser comemorado. Isso acaba de acontecer com Zumbi dos Ipês (Avá Editora Artesanal), de Marcos Fabrício Lopes da Silva. Lançado em 2018, o volume reúne o que a poesia de Fabrício tem de melhor: o brado militante contra as injustiças de um mundo que discrimina e violenta pretos, pobres, “diferentes”; e a palavra lírica, apaixonada, do homem à procura da verdade e da felicidade.
Fabrício é um ativista das artes, da cultura, da educação, da inclusão. Poeta, professor, agitador cultural, criou o Sarau Marcante, cuja trajetória só vive altos e baixos devido à pandemia e à necessidade de conter nossos ímpetos de encontro e partilha em nome da segurança sanitária. É responsável por incansáveis artigos publicados nas redes sociais, por poemas sem fim, por generosas resenhas da produção local, por prefácios e posfácios que enriquecem nossas publicações (fez a orelha do meu O Quarto Canal, o que muito me honrou).
Em Zumbi dos Ipês, com seu estilo pop metralhadora, os poemas visitam do hino nacional às mais diversas referências musicais, literárias, históricas e linguísticas pra desancar com o senso comum que faz do Brasil esse país cruelmente “ameno”. Vejamos este trecho de “Preto no Branco”:
Casa grande e senzala. / Mansão e favela. / Feira e shopping. / Cozinha e sala. / Elevador social e elevador de serviço. / O Brasil entre a Ilha de Caras e o Cemitério dos Vivos.
E tem também pra sua cidade natal, em “Braxília”, homenagem explícita a Nicolas Behr:
exu monumental / exu residencial / asa soul / asa sorte // plano piloto de fogão / cidade em forma / de pés no chão // o braxiliense tira leite de pedra / arquitetando afetos… / imagina a ação!
Ou ainda o romântico apaixonado em “Namoradinha de Infância”:
bom de tabuada, / perdia logo a conta / quando a menina dos olhos de jabuticaba / me deixava no pátio da escola / com água na boca.
Por fim, mas não menos importante, o aforismo, a frase curta, certeira:
atrás de um doido varrido / tem sempre / um normal de vassoura
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