No primeiro emprego que tive como jornalista conheci o General. Celius Aulicus Gomes Jardim tinha esse apelido porque assinava, como humorista, como General da Banda. Ninguém mais antimilitarista que aquele doce e amargo General. Ficamos amigos de cara, por uma série de razões; as principais, afinidades como comunistas, humanistas, críticos a uma porção de coisas, amantes da arte, da palavra e do bom texto. Ah, atleticano o General também era.
Depois convivemos durante anos no Estado de Minas. Ele cozinhava superbem e nos convidava para seus ajantarados, deliciosos. Tomávamos umas e outras, falávamos de política, de sindicato, da Belo Horizonte de outrora, de tudo em geral.
O General nos deixou em 1994, mas suas lições como cronista e homem do coletivo ficaram. Agora, quase 20 anos passados, ele recebe uma justíssima homenagem dos pares, em Minas, com a edição de “Celius Aulicus – O Muito Amado General”, livro que reúne textos sobre ele e textos dele, inclusive uma reedição de sua coletânea de crônicas “Podem dizer que não falei de flores”, lançada em 1991.
Foi ótimo ler sobre ele, textos emocionados e boas histórias (tem até uma crônica minha, escrita quando fez cinco anos de sua morte), ver fotos antigas, mas o melhor de tudo, disparado, é reencontrar o texto do bom e velho General. A crônica o traz de volta a nós, vivo e forte em sua verve, em seu bom e mau humor, em sua cultura sólida e suas idiossincrasias, no mesmo vigor com que defende uma criança pobre ou ataca um hipócrita desumano.
Delícia à parte é a reprodução de receitas que ele dava na coluna semanal Ajantarado de Domingo, assinando como Rossini. São textos engraçados e que dão água na boca pela maestria com que domina palavras e temperos.
Só me resta agradecer ao Sindicato dos Jornalistas, a Hélia Ventura, Vera Godoy, Carlos Barroso e à família do amado General, pela maravilha que é ter de volta a presença viva deste grande amigo, deste grande homem.
Beijus!
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