É antigo, mas eu não tinha lido. Falo de “Hotel Brasil”, de Frei Betto (Editora Ática), mais que um mero romance policial, um painel social e político do país naquele momento – 1999 – e com graves questões abertas até hoje.

O frade escritor ambienta num hotelzinho fuleiro da Lapa, no Rio de Janeiro, um crime bárbaro, com cabeça decepada e olhos arrancados, e tece em torno dele uma rede de personagens intrigantes que habitam aquele lugar. Metáfora clara sobre o povo brasileiro. Um travesti, uma cafetina, uma doméstica com sonho de atriz, um jornalista beberrão, um assessor político cheio de esquemas…

O fio condutor é um homem que veio do interior com desilusões amorosas, estudou em seminário e desenvolve trabalho social com crianças de rua. Mais violência e criminalidade cerca também esse ambiente. Cândido – outro nome metafórico – se envolve com uma pequena órfã, ao mesmo tempo em que se apaixona por uma mulher, com quem pretende formar uma família para adotar a menina.

Enquanto a polícia tortura e bate cabeça sem solução para o crime, novos ataques ocorrem, apontando para a hipótese do serial killer. Embora a solução do problema seja previsível, é na descrição desse Rio violento, dessas personagens sem rumo, dessa falta de ética generalizada, que residem as melhores qualidades do romance, o domínio narrativo do escritor Frei Betto.

Beijins!