Recomendado pela minha amiga e grande escritora Lucília Garcez, li o livro “Os melhores contos de Katherine Mansfield” (L&PM), que reúne dez pequenas obras-primas da escritora neo-zelandesa que viveu apenas 34 anos e morreu de tuberculose, após uma vida agitada na Europa do início do século XX. São joias raras, de tamanha força, que tocam e ferem pelo inesperado, pelo toque amargo que ela consegue mesclar à aparente delicadeza e até frivolidade de algumas das histórias.

“Prelúdio”, o mais longo dos contos, abre o volume acompanhando uma família em mudança para a zona rural. Alguns do personagens retornam em “Casa de boneca”, talvez o mais cruel no contraste entre doçura e amargor, na denúncia das distâncias intransponíveis entre a elite endinheirada e a ralé pobre.

“Euforia”, o segundo conto da coletânea, possui rara capacidade de jogar com emoções contrastantes, quando a protagonista descobre uma realidade que a derruba das nuvens que ela habitava com seus óculos cor-de-rosa.

Em “Psicologia”, um casal avança e recua na tentativa de se entender, mas, como nas demais histórias de Katherine Mansfield, a imobilidade vence o desejo, o medo abafa a possibilidade de ser feliz.

Outra realização genial da escritora é “A aula de canto”, em que, ao sabor de seguidas cartas de amor, uma em que leva um fora do noivo, outra de reconciliação, a professora de música conduz as alunas pelos variados caminhos e descaminhos da emoção.

“A vida de Mã Parker”, sobre uma empregada e seu neto, é um poço de beleza e tristeza! As emoções capturam o leitor também em “O desconhecido”, em que a angustiante espera do desembarque de um navio resulta do inconveniente de uma morte a bordo.

“Festa ao ar livre” novamente joga com os contrastes entre um festança da elite fútil e a degradação de um casebre onde um trabalhador morreu em meio à falta de recursos.

E por fim “A mosca” e “O canário” encerram o volume com novas demonstrações de sutileza da escritora, uma mestra em contar histórias curtas, surpreendentes e envolventes, às vezes até de tirar o fôlego.

Bjs!

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