Duas leituras de escritores médicos me chegaram às mãos praticamente ao mesmo tempo. A primeira, “A caneta que mata” (Ophicina de Arte&Prosa), de Jair Raso, de Belo Horizonte. Meu amigo Jair Raso, que se desdobra entre as profissões de médico e escritor, mais precisamente autor teatral, diretor, iluminador e etc. – esse etc. aí se devendo ao verdadeiro homem de artes e humanidades que ele é.
O livro de Jair reúne as crônicas que ele vem publicando, metade delas de cunho médico, a outra metade de comentários sobre temas variados, inclusive política, cultura, política cultural. Jair é homem culto, filósofo por estudo e por amor ao pensamento. Suas crônicas tanto divertem quanto informam, quebram mitos, acrescentam ao leitor. Ele domina a escrita e sabe como dizer o que quer dizer.
Sou sua leitora constante e a reunião do trabalho em livro facilita uma compreensão global de sua obra cronística.
O outro escritor e médico é o Valdir de Aquino Ximenes, de Brasília, de quem li “Contos da Vida Médica” (LGE) e “Letra Morta Letra Mortal” (Thesaurus).
Aqui se trata de literatura de não menos qualidade, mas de mais polêmica. No primeiro livro, o autor reúne contos de alguma maneira ligados ao tema da medicina, com personagens que exercem a profissão e situações ambientadas em hospitais e consultórios.
O problema é que algumas pessoas com quem o autor teve relação se sentiram retratadas em contos, alguns deles de forte conotação erótica, com temas como falta de ética e distúrbios de comportamento suspeitos vindo de profissionais da saúde. São ficção, são literatura, mas mesmo assim o autor enfrenta na Justiça pedidos de “danos morais”, que juízes tendem a acatar.
No livro seguinte, a partir da saga kafkiana que Ximenes conta viver, ele tece um romance inspirado livremente no caso, tratando de ressaltar que se trata de ficção, nada mais. Enfim, mais uma briga pela liberdade artística e de expressão.
Abraços!
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