Agora vou atualizar alguns dos livros que andei lendo e cujos comentários fiquei devendo. Começo com “O rosto perdido”, de Almeida Fischer, um autor “brasiliense” do início da cidade, um dos que analisamos em nosso clube de leitura dedicado apenas a autores de Brasília ou que têm a capital federal como seu objeto ou tema.
Almeida Fischer era paulista, mas morou em Brasília e aqui atuou, inclusive como fundador da Associação Nacional de Escritores. “O rosto perdido” é uma ideia genial que, em sua realização, ficou devendo a si própria. Explico: a trama gira em torno de um homem que acorda após um acidente e descobre que seu cérebro foi transplantado para o corpo de um jovem que havia levado um tiro na cabeça. Na tentativa de um transplante de cérebro, fizeram um transplante de corpo. O “eu” que sobreviveu é da cabeça, não o do tronco e membros…
A ideia não é boa só pelo ineditismo e pela época – final dos anos 1960, quando foi escrito o livro -, mas também por permitir discussões éticas e filosóficas. A dívida do autor advém de certa superficialidade ao tratar de tudo isso. Fábio, o escritor que acorda no corpo de Oscar, o jovem playboy, lida com muita facilidade com o fato. Assim como sua família de um lado, mulher, filhos, e do outro, pais, irmãos, namoradas… Até o pessoal do seu serviço acha tranquilo confirmar-lhe a identidade a partir de um teste grafológico e de algumas perguntas respondidas com acerto – e olha que ele trabalha no jurídico do INPS…
Assim, sem aprofundar as ene questões que resultariam de tal troca de personalidade, o livro passa por cima de boas indagações. Questões de linguajar antiquado e de ritmo (a história foi publicada em capítulos no Correio Braziliense) não me incomodam mais que o desperdício da ótima ideia.
Beijos!
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