Fomos ver ontem à noite a peça Cabaré das donzelas inocentes, do amigo e ex-colega de Correio Braziliense Sérgio Maggio. O texto teatral constava do livro Conversas com cafetinas, lançado por ele no início do ano. A ficção complementa a vasta pesquisa que o jornalista fez em prostíbulos de Salvador e com prostitutas de rua de Brasília. Trata-se de um trabalho especificamente sobre donas de bordéis.
Na peça, quatro figuras emblemáticas delas se digladiam numa “longa jornada noite adentro”. Confinadas num simbólico bordel desativado – pela falta de homem? pelo fim inexorável de que ninguém ainda se deu conta? – elas narram, uma a uma, sua história, seus dramas, seus momentos de leveza e peso.
Na montagem dirigida por Murilo Grossi e William Ferreira, quatro experientes atrizes de Brasília dão vida a essas figuras patéticas e tão humanas: Adriana Lodi, Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn e Catarina Accioly. As duas primeiras, com presenças cênicas de alta tensão, dominam a cena, que seja falando, quer em silêncio, nos momentos reservados ao brilho das outras. A força de Bidô, a China, dona do lugar, e Adriana, a Saiana, que faz justiça na ponta de um facão, prevalece ao longo de todo o espetáculo, que, nesse sentido, se desequilibra.
A composição da cena, o ritmo alcançado e a ambiência construída, no entanto, resolvem esse desequilíbrio e permitem ao espectador mergulhar naquele dia a dia sofrido de quem trabalha com a venda do próprio corpo e a quem pouco resta quando a juventude se vai.
Cabaré das donzelas inocentes, a montagem, resolve bem a pouca ação proposta no roteiro, com interpretações marcantes e a tensão construída pelo texto. Um soco no estômago da plateia. Um não, vários.
Beijos!
Clara, em tempos que a crítica desaparece dos jornais, encontrar esta reflexão no seu blog é de um estado de graça. Precisamos dessa massa crítica para discutir, pensar, deglutir, comer e vomitar o Cabaré, e essa maravilha que o teatro, uma arte que permite constuir tudo no encontro sagrado entre artista e espectador. Obrigado