Longa da noite competitiva de sábado no Festival de Brasília, outro mineiro, O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges, diferenciou-se de tudo que vinha sendo mostrado até então. Ao contrário das ficções anteriores, trata-se de uma espécie de documentário dramático. O diretor explicou que a produção selecionou histórias que, de tão insólitas, parecessem fictícias. E encontrou três personagens, que toparam encenar as próprias vidas: um cabo-verdiano que tem um filho com paralisia cerebral, um rapaz que, entre outras coisas, trabalha em telemarketing, é Hara Krishna e membro da torcida organizada Galoucura, e um transexual que divide a vida entre a atividade acadêmica, discutindo Foucault e Freud, e a prostituição. O filme é diferente de tudo que vinha sendo visto e, embora ainda não resolva a questão da facilidade de comunicação com o grande público, revela facetas interessantes, inclusive de Belo Horizonte, onde se ambienta.
Os dois curtas da noite também agradaram: Matinta, de Fernando Segtowick (PA), sobre uma lenda amazônica, e tendo Dira Paes no elenco; e Falta de ar, de Érico Monnerat (DF), uma memória sobre o tortura política no tempo da ditadura. Dois detalhes curiosos na produção brasiliense: a inversão da técnica de opor cor e preto e branco, com a primeira sendo usada para as cenas de flashback e a segunda para as do presente; e o ponto de vista do torturador, e não o do torturado, para a volta ao passado.

Beijos!