A História e as histórias foram o tema da última sessão da mostra competitiva de documentários no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que termina hoje, com a noite de premiação.

O curta Contos da Maré, de Douglas Soares, dá ouvidos a casos mirabolantes ocorridos (ou inventados) na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, desde o início da ocupação. São causos que envolvem até lobisomem e um porquinho tido como filho de um homem que cuidava da pocilga. Com bom humor e cuidado em apurar a memória de sua comunidade, o filme brinca com os medos e folclores populares em tom de delicadeza. Muito bom.

Já o longa A arte do renascimento – uma cinebiografia de Sílvio Tendler, de Noilton Nunes, tem qualidades estéticas e defeitos políticos. Sílvio Tendler (foto) é um dos maiores documentaristas brasileiros, um ator social, cultural e político do cinema, responsável por trabalhos memoráveis e de grande importância na cena – não só nacional como internacional. Com problemas de saúde, passou por cirurgia, perdeu todos os movimentos e aos poucos vai voltando à ativa, o que celebra trabalhando e abraçando novos projetos, novas causas por que lutar. É um guerreiro dos melhores combates.

Até aí tudo bem. O problema do filme é tentar fazer História, na melhor vocação do personagem abordado, mas escamotear a própria História. Pelo menos é o que parece quando recorre a problemas de desemprego de 2003, cenas do Brasil, da Argentina e da Bolívia de dez anos atrás, e desconhece o que aconteceu nos últimos dez anos no país e no continente. Até fotos de todos os presidentes do Brasil, de JK a FHC, eles colocam, deixando de fora Lula e Dilma. Por quê?

Que país é este que eles vêm? O filme dá voz a Brizola, Prestes, Darcy Ribeiro, até Tancredo Neves… e para por aí… Para nas críticas – corretíssimas – de Milton Santos feitas em 1997. O Brasil contemporâneo é o das manifestações de junho, apenas. Há um problema político quando se tenta fazer História negando a História.

Bjs!