Interessante a coincidência de a Campanha da Fraternidade 2022 da CNBB tratar de uma questão que me tem ocupado como escritora, editora e cidadã. Fraternidade e Educação é o tema. O lema, “Fala com sabedoria, ensina com amor”, tirado de Provérbios, na Bíblia.

Há já algum tempo que me preocupam os desafios de uma educação democrática e inclusiva, tão vitais na constituição de uma sociedade mais justa. Por isso, nosso trabalho, na Outubro Edições, se volta para eles. Em livros que escrevo ou de outros autores que publico, exponho essa preocupação em diferentes gêneros, ficcionais ou não.

Gostaria de falar de alguns desses livros, começando pelos mais recentes:

– Quando vier a primavera – um tributo a Lucília Garcez, de vários autores. O texto principal do livro é uma carta escrita por Gina Vieira Ponte para Lucília Garcez. Nela, a jovem professora conta para a mestra veterana a importância que esta teve para sua formação em todos os sentidos, sobretudo ao abrir os caminhos da literatura como pedagogia e cidadania. Os caminhos de Lucília Garcez como escritora e educadora marcaram sua trajetória e a de todos que tiveram a felicidade de conviver com ela.

– Antes que toque a meia-noite – memórias de uma professora, de Maria da Glória d’Ávila Arreguy. Este livro escrito por minha avó há mais de 50 anos ganhou uma terceira edição, revista e ampliada, para falar mais da renovação do ensino da qual D. Glorinha fez parte, como aluna da Escola de Aperfeiçoamento e depois, como mestra e diretora em diversos educandários. Ela narra as dificuldades enfrentadas e as conquistas obtidas numa vida de luta pela Escola Nova, que apostava na criatividade contra a decoreba, na liberdade contra a repressão. O livro é lindo e são perenes as lições para quem trabalha com educação.

– O quarto canal, de Clara Arreguy. Neste romance, acompanho a vida de uma professora que se vê assediada moralmente pela perseguição ideológica movida por um aluno, com a omissão da direção da escola. Os tempos atuais do Brasil, de desvalorização do ensino e do ofício de professor, são retratados junto às mazelas de todos os tempos, como os baixos salários e as precárias condições de trabalho.

– De todo coração – a vida de Anna Maria Costa de Araújo, de Clara Arreguy. A biografia de D. Anna tem como ponto alto o exemplo de vida de uma menina de 12 anos que decidiu ser professora e que, para exercer tal missão, enfrentou todo tipo de dificuldade. De ir a cavalo para a comunidade rural onde não havia escola, classe ou lousa, de atravessar o rio nas cheias, de conseguir que as autoridades locais provessem um mínimo de estrutura para que as crianças da roça tivessem acesso às primeiras letras e aos primeiros números. Mais uma mestra marcante na vida de quem teve a sorte de ser seu aluno.