Para quem estava acostumado com aqueles filmes iranianos delicados, minimalistas ao contar histórias poéticas e até certo ponto simplistas, A separação, de Asghar Farhadi, surpreende por ser a contraface de tudo isso. Não menos forte, mas, em outro rumo, verborrágico e cheio de ação, o filme, candidato ao Oscar e vencedor do Globo de Ouro, fala sobretudo de ética.
Trata-se de um drama em torno de um casal (foto) que, embora se ame, está se separando. A mulher quer se mudar do Irã e levar a filha adolescente. O marido não quer sair do país porque tem um pai idoso com Alzheimer. Como ela bate o pé e sai de casa para pressioná-lo, ele tem que contratar uma empregada para fazer companhia ao velho enquanto ele vai trabalhar. Aí começam os problemas.
Diferenças religiosas e morais dão o tom. A empregada, grávida, não poderia ficar na casa de um homem separado, pelo menos não sem autorização do marido. Este, por sua vez, é violento e intratável. As coisas se complicam com um acidente e a suspeita de um roubo. Todos vão parar no tribunal. Mentir ou não, respeitar ou não, quem vai cuidar do velhinho, o que a adolescente vai aprender – são questões éticas que se colocam para todos os personagens, sejam ou não religiosos.
Enquanto a trama se enrola cada vez mais, os dilemas implicam na criação que os pais querem dar aos filhos, no Irã que querem habitar, no tipo de gente e de povo que querem ser. Coisas que nós, brasileiros, estamos nos acostumamos a relevar, mas que deveriam ser pensadas com mais carinho. Afinal, muitas de nossas crises se devem à perda de valores. Tudo caindo na vala comum do dar-se bem. É difícil se dar bem, o custo é alto no longo prazo.
Confira o filme dos iranianos, sem preconceitos. Eles têm muito a nos ensinar. Beijocas!
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