Com o tanto que acho Fernanda Torres boa atriz e antipática no trato pessoal, tenho que admitir que seu livro de estreia, o romance “Fim”, é um excelente registro de costumes e gerações que atravessa o Rio de Janeiro do século XX. Em torno de uma turma de amigos de praia, ela tece personagens profundos e interessantes, mergulha em psicologias pessoais e de uma época bem significativa do Brasil.
Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro, além dos demais personagens que os cercam, suas mulheres, filhos, até o padre que encomenda cada morto, são retratados com tintas bem definidas e dosadas, com narrativa madura e fluente. A estrutura da trama ajuda – cada personagem começa a história por sua morte, e sempre de trás para a frente. O último a morrer é o primeiro a ter a vida contada.
Confesso que me enchi de antipatia ao iniciar justamente pelo sarcasmo misógino de Álvaro, um tipo chato e infeliz que atazana a vida de quem passou por sua história. Mas ao longo do romance o tom assume outras vozes, outros sotaques, despidos de toda aquela ironia que se acha engraçada, mas que pra mim não a menor graça. O mergulho no romance é inevitável, e a fruição literária, plena.
Beijos!
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