O filme “Lincoln”, de Steven Spielberg, candidato a uma porção de Oscars, é não apenas bom como importante.
Bom porque feito por um dos mais talentosos realizadores do cinema das últimas décadas, com um enredo histórico e que diz respeito a muita gente, elenco fortíssimo e produção de primeira. Não é à toa que Daniel Day Lewis compete como melhor ator, Tommy Lee Jones (maravilhoso) como coadjuvante e Sally Fields como melhor atriz (apesar de tão mais velha que o “marido”). Não é à toa que o filme está entre os fortes candidatos aos prêmios do ano.
Importante por tratar da questão da escravidão sob ângulo bem diverso de “Django Livre”, de Tarantino, mas num interessante contraponto àquele filme, que aborda o ponto de vista do negro, seja escravo, seja o anjo vingador.
No filme de Spielberg, a elite branca discute o que fazer diante da escravidão, incômoda a alguns por motivos políticos, a outros por motivos humanitários, mas para muitos “apenas” um “problema” econômico conjuntural.
A trama acompanha os momentos finais da Guerra de Secessão nos EUA, quando a discussão da abolição da escravatura pelo Congresso pode complicar ou facilitar o fim do conflito. Lincoln, o presidente honesto e heroico, quer a todo custo a aprovação, e a todo custo significa desnudar os métodos de convencimento, chantagem ou compra de votos, mais velhos do que andar pra frente.
Todo mundo discute no Brasil de hoje a questão da corrupção, da moralização da política, mas poucos têm o desprendimento de defender a política como o espaço legítimo do entendimento e da construção da sociedade mais justa e democrática que quer a maioria (não todos. Tem gente que não quer.).
No filme, o bem é aprovar a nova lei, para isso vale comprar voto, pressionar inimigo, cooptar adversário, mentir sobre princípios. Os fins vão justificar os meios. Vão? Acho que vão. Muito embora alguns sinhozinhos da época já se preocupassem: “mas se libertarmos os negros, daqui a pouco vão querer votar, vão querer ocupar um lugar aqui, ao nosso lado…”. É isso mesmo. Vão até ser presidentes!
O filme é um pouco lento e escuro em algumas passagens, incomodando os viciados em ação. Mas faz pensar. Coisa rara, galera, mas fundamental.
Beijus!
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