O escritor Luiz Schwarcz é mais conhecido como o dono da Companhia das Letras, uma das mais bem-sucedidas editoras do Brasil, objeto do desejo de dez em cada dez escritores. Apesar de empresário de sucesso no ramo, não é pelo cargo de dono da bola que sua escrita merece a publicação em livros. É porque é boa mesmo.
“Discurso sobre o Capim” (Companhia das Letras) reúne onze contos de Luiz, um conjunto de leitura agradável, com alguns picos de qualidade superior. Pra mim, o ponto alto é o provavelmente memorialístico “Acapulco”, que narra um episódio da vida do menino deixado na casa dos avós judeus enquanto os pais realizam o sonho de conhecer a Itália, de onde vieram na época da II Guerra.
As peculiaridades de uma família judia emigrada pro Brasil em meados do século XX já renderiam boas histórias. Quando essa narrativa traz personagens cativantes como o avô do menino, e situações como a gráfica do velho, que estão na pré-história do bem-sucedido empreendimento que viria a ser a editora do autor, uma teia invisível acaba por costurar uma urdidura literária que emociona. Esse garoto, que não entende tudo, vive pequenas angústias e delícias de todo menino, rico ou pobre, judeu ou cristão…
O livro é mais forte sempre que o autor está mais presente em emoções nitidamente vividas. Os contos que inventam personagens mais distantes dessa realidade soam artificiais, perdem em emoção. “Sétimo andar”, “A biblioteca”, “Acapulco” e “Livro de memórias”, em compensação, valem o livro.
Beijocas!
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