Em agosto do ano passado, falei aqui de Jacques Fux, autor mineiro superpremiado e cada dia mais saudado no Brasil e no exterior por obras provocativas, instigantes e engraçadas. Havia lido dele Meshugá, um livro maravilhoso sobre loucura, que conta histórias terríveis de judeus como Bob Fischer, Woody Allen, Ron Jeremy e Sarah Kaufman.
Agora, acabo de ler Brochadas, levantamento que também inclui a cultura judaica em seu raio de “pesquisa”, mas que se apoia mais no humor para desconstruir a imagem machista de que homem que é homem não brocha. O personagem da autoficção é ele, Jacques Fux, relatando as inúmeras vezes em que lhe faltaram condições de consumar o ato sexual.
O narrador não se contenta em “abrir o coração” e confessar as falhas que tantos machões negam ter alguma vez vivenciado. Enumera caso a caso, motivo a motivo, e sai à procura das parceiras com quem os fatos teriam acontecido. Além de mostrar a elas os capítulos que lhes competem no livro que está escrevendo, indaga-lhes se elas também teriam brochado com ele. E recebe como resposta as descomposturas merecidas.
Muito boa a construção da autoficção a esse nível, da metalinguagem do livro sendo escrito e sua escritura sendo narrada no livro, e muito engraçada a procura dele pelo amor, pela realização, pela afinidade que o leva ao “DNA judeu”, e as histórias que pesquisa para amparar as justificativas do narrador brocha.
O resultado é uma desconstrução tão escancarada quanto sutil de conceitos cada vez mais em desuso entre gente civilizada, mas, paradoxalmente, cada dia mais em voga num certo Brasil que tenta andar pra trás e voltar à era das trevas.
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