Um romance interessante é “Sem Paredes”, de Durval Augusto Jr., narrativa em primeira pessoa de um tipo solitário, Fortunato, mineiro do interior que vai para São Paulo pra fugir do casamento precoce com a moça que engravidou. Na cidade grande, Fortunato passa por todo tipo de perrengue, da falta de amigos à necessidade de arranjar trabalhos desqualificados, até se deixar levar pelo “demônio” que tem dentro de si, participar de um assalto em cumprir longa pena em penitenciária.

Mais adiante, Fortunato, já livre, corre mundo atrás de nova vida a encontra numa pequena comunidade do interior, onde se estabelece como porqueiro numa fazendinha. Novamente tentado pela maldade, acaba forçando a filha do patrão a se casar com ele, o que vai acarretar novas desgraças.

Daí em diante, premido pela própria falta de lugar no mundo, Fortunato volta para a estrada, corre mundo sem destino, carregando consigo seus fantasmas, culpas e uma ou outra boa lembrança.

Com linguagem que visita o linguajar arcaico e cheio de sabedoria dos velhos da roça, Durval Augusto confere a Fortunato um sotaque próprio, rico e divertido. Os personagens com quem ele se relaciona também são, na maioria, bem construídos, com alguma exceção – a mais gritante é a ausência da Madalena, a moça que teria tido seu filho, a quem ele nunca procura, nunca inclui como personagem viva.

Já os toques fantásticos, em situações com fantasmas e bichos que falam, contribuem para fazer do protagonista um tipo de fato interessante, misto de varejão de rua e louco delirante, à beira da psicopatia, um velhinho que qualquer um gostaria de conhecer em suas andanças.

Beijos!

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